Carros elétricos já são uma realidade no Brasil?
- REDAÇÃO AB
- 11 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Apesar da marca histórica de veículos eletrificados, futuro da mobilidade no país ainda é complexo
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) anunciou que o país superou, no último mês de julho, a marca histórica de 100 mil veículos eletrificados em circulação. No entanto, será que o número reflete, de fato, a realidade? O Brasil já chegou ao futuro da mobilidade?
Rumo à eletrificação da frota?
Desde o início da série histórica, em 2012, 100.292 veículos eletrificados foram comercializados no Brasil. Embora seja um avanço, um passo interessante rumo ao futuro da mobilidade, o marco deve ser admirado com ressalvas.
A ABVE põe na conta veículos elétricos a bateria, híbridos plug-in (PHEV) e híbridos (HEV). Este último não pode ser ligado à tomada, tem eletricidade gerada pelo motor a combustão. E ainda tem a categoria híbrido-leve, onde um motor elétrico faz as vezes de gerador para auxiliar a unidade a combustão, mas não traciona as rodas.
Justamente por isso, não são considerados elétricos puros — os chamados BEVs (da sigla, em inglês, Battery Electric Vehicle).
Carros elétricos puros são minoria
Desta forma, os veículos elétricos puros representam menos de 10% da frota eletrificada brasileira. Se removermos, então, as lentes de aumento, a situação fica ainda mais complicada.
Segundo relatório anual do Sindipeças, a frota circulante brasileira ultrapassou a casa de 46 milhões em 2021. A entidade leva em consideração automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Mesmo com o descarte dos dois últimos segmentos da equação, a representatividade dos elétricos ainda não é digna de loas.
Brasil não pode ficar para trás
A própria ABVE reconhece que, embora algo respeitável, o resultado está muito aquém do potencial do mercado brasileiro de veículos de baixa emissão. “Esses 100 mil [veículos] são um grande destaque e mostram que o Brasil está no rumo certo, mas ainda falta muita coisa para a eletrificação avançar”, diz Adalberto Maluf, presidente da associação.
Vale destacar que, no primeiro semestre, 20.427 eletrificados foram licenciados no país. Tal representa market share abaixo de 2,5%. Se levarmos em consideração apenas os BEVs, a fatia cai para 0,4%. Destes, a maioria dos elétricos puros foram abocanhados por locadoras e frotistas.
Na Europa, por exemplo, os BEVs representam cerca de 10% do mercado. Os híbridos têm média de 25% de share. Na China e nos Estados Unidos, os veículos do tipo também têm boa participação. A ABVE estima, inclusive, que as vendas globais de eletrificados cheguem a 12 milhões de unidades em 2022 — quase o dobro em relação ao ano anterior.
“O Brasil não pode isolar-se das cadeias produtivas globais do setor automotivo. O risco é o país perder ainda mais competividade internacional e tecnológica, deixar de gerar renda e não produzir novos empregos de qualidade”, comenta Maluf.
Carros elétricos no Brasil: preços e infraestrutura
Segundo estudo do BCG, feito a pedido da Anfavea, os eletrificados responderão, no Brasil, por cerca de 60% das vendas a partir de 2035. Tal cenário só se mostra possível por conta da queda nos preços dos veículos, ocasionada por redução no custo de produção das baterias — apontada por outro levantamento, da Alvarez & Marsal.
A consultoria indica que, até 2028, os veículos elétricos custarão o mesmo que os modelos equipados com motor a combustão. A participação dos BEVs no mercado também aumentará. Eles serão 3% da frota em 2025 e representarão 9%, em 2030.
O cenário otimista, todavia, traz consigo, de forma adaptada, o famigerado “paradoxo Tostines”: os carros elétricos vêm antes da infraestrutura de recarga ou a infraestrutura de recarga vem antes dos carros elétricos?
A Anfavea não pretende trabalhar num universo sem lógica. A entidade quer fomentar a criação de uma rede de postos de recarga ao mesmo tempo em que o mercado de veículos elétricos se expande.
De acordo com o estudo do BCG, a frota brasileira terá entre 10% e 18% de carros elétricos até 2035. Com pelo menos 3,2 milhões de veículos do tipo circulando em nossas ruas, precisaríamos de 135 mil postos para atender a este volume.
Postos de combustíveis já vislumbram soluções para a eletromobilidade e a oferta de eletropostos cresce a cada ano. Mas será o ritmo suficiente para atender à demanda?
Este é um tópico que, mesmo com projeções advindas de todos os lados, segue com um ponto de interrogação. Por isso, é importante fomentar ainda mais discussões, a fim de gerar respostas mais concretas.
As soluções para e eletromobilidade serão debatidas no #ABX22. As inscrições para o evento estão abertas e os ingressos já estão no segundo lote — à venda no Sympla por R$ 1.300.



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