Como a guerra entre Rússia e Ucrânia afeta o setor automotivo na região e no Brasil
- REDAÇÃO AB
- 21 de out. de 2022
- 4 min de leitura
Com quase oito meses de conflito, valorização do dólar e escassez de matéria-prima são ameaça para a indústria por aqui
Todo mundo sabe que a guerra entre Rússia e Ucrânia causou impactos fortes na economia mundial. O conflito iniciado em 20 de fevereiro está prestes a completar oito meses e ainda afeta vários setores, inclusive na indústria automotiva.
Logo nos primeiros meses da guerra, várias fabricantes deixaram a Rússia por falta de suprimentos ou dificuldades com o sistema de pagamento após a expulsão do país da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT).
A saída mais recente foi a da Nissan, que já havia suspendido a produção em sua fábrica de São Petersburgo em abril. A empresa se desfez de todas suas operações e calcula uma perda de 100 bilhões de ienes com a decisão, mas assegurou o direito de recompra pelos próximos seis anos. Citando outros dois exemplos, Toyota resolveu interromper a produção de veículos, enquanto a Mazda deve conversar com seu parceiro local ao mesmo tempo em que estuda deixar o país definitivamente.
A situação não mudou tanto mesmo depois de oito meses do início da guerra. Os efeitos foram mais sentidos na Europa, onde a crise energética pelo falta de suprimento da Rússia pode derrubar a produção de veículos em aproximadamente 40% até o final deste ano. A previsão foi feita pela S&P Global Mobility, empresa especializada na análise do cenário econômico da indústria automotiva mundial.
Caso esse volume realmente se concretize, as montadoras podem deixar de produzir até 1 milhão de veículos. Os motivos já são conhecidos: além dos efeitos da pandemia e da guerra, a instabilidade no custo da energia utilizada nas linhas de montagem (e em casos extremos, até o corte no fornecimento de energia) podem afetar a produção.
Os efeitos da guerra na indústria automotiva do Brasil
Poucas semanas após o início dos bombardeios, o então presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, manifestou preocupação.
“Em primeiro lugar, nos preocupa o aspecto humanitário, com tantas mortes, inclusive de civis. Estamos atentos e preparados para mitigar os danos e buscar alternativas em caso de falta de insumos ou componentes. O mundo, ainda vivendo sob uma pandemia que cobra tantas vidas e desorganiza a sociedade, pode sofrer novos e duros golpes caso esse conflito não seja resolvido com um cessar-fogo imediato e a volta da diplomacia”, afirmou na ocasião.
Diante do cenário atual, a crise energética e outros fatores que prejudicam a indústria automotiva europeia podem não ser sentidos diretamente no Brasil. Mas isso não significa que as fabricantes não devem se preocupar com o que acontece no Velho Continente.
“É importante destacar que o Brasil possui pouca relação comercial com a Rússia e com a Ucrânia, em especial no ambiente automotivo. As grandes relações comerciais ocorrem na agricultura com o fornecimento de fertilizantes dos russos. As implicações da guerra são mais indiretas, incluindo pressão inflacionária, aumento dos combustíveis, valorização do dólar, aumento nos valores dos insumos e variação da taxa de juros. Todos esses fatores impactam direta ou indiretamente nos preços e, por consequência, nas vendas dos automóveis”, afirmou Milad Kalume Neto, gerente de novos negócios da Jato Dynamics.
Para ele, outro ponto que merece atenção é a eventual escassez de matéria prima utilizada na produção de componentes.
“Sem dúvida a maior preocupação está no fornecimento de matéria prima para a confecção de semicondutores que são utilizados em todos os equipamentos eletrônicos. Temos ainda ciência de restrições de outros materiais como paládio (necessário para os catalisadores) e aço, sem contar que uma potencial escassez de lítio poderia afetar os planos de eletrificação da frota global no futuro”.
Se serve de alento, pelo menos a crise dos semicondutores pode deixar de ser a maior dor de cabeça do setor automotivo.
“As fábricas automotivas estavam parando por falta de peças e semicondutores e agora, mesmo que em certo limite, observa-se uma regularização. Isso não significa que o problema tenha acabado, mas a tendência é que essas paradas sejam cada vez menores e mais espaçadas até a regularização completa, prevista para acontecer no final de 2023”, concluiu Milad.
Com guerra, Brasil pode ganhar relevância entre países emergentes
Outra teoria que pode soar como um bálsamo em meio a tantas complicações é a de que o Brasil pode ganhar relevância no cenário automotivo global por ser um país emergente, digamos, menos complicado. Enquanto a China ainda lida com o combate à covid-19 e problemas de política internacional e a Rússia deixa de ser uma opção para as empresas por causa da guerra, o mercado nacional pode passar a ser uma opção de investimento mais interessante para as empresas.
Ao menos essa é a visão de Paulo Guedes, atual ministro da Economia. Em reunião com a Anfavea, associação que representa as montadoras, em maio de 2022, o dirigente da pasta afirmou que observa uma "reorganização da indústria global" em busca por realocar cadeias de suprimentos em regiões mais seguras, com menos conflitos políticos, riscos jurídicos e intempéries naturais. Segundo ele, nesse escopo, o Brasil ganha atratividade.
O ministro reiterou essa teoria durante sua fala no #ABX22 - Automotive Business Experience, evento realizado no dia 8 de setembro, em São Paulo. Lá, ele reforçou a possibilidade de o país emergir com a sua ampla oferta de recursos, como "potência energética, verde, ambiental e alimentar”. Para Guedes, “enquanto o mundo está em turbulência, e vai piorar, o Brasil está bem e forte."
RETIRADO DE: https://automotivebusiness.com.br/pt/posts/?page=1



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