Quem inova paga menos impostos e é papel do engenheiro buscar subsídios
- REDAÇÃO AB
- 19 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Esqueça a área tributária da organização, os projetos de inovação nascem na engenharia e, portanto, dependem de profissionais atentos a incentivos e redução de custos
Olharam feio para mim quando defendi que o engenheiro do futuro no Brasil teria que entender como economizar em impostos, ou melhor, como otimizar o uso das linhas de incentivos à inovação. Teria que conhecer a fundo matérias detestadas pelos “engenheiros raiz”: contabilidade, impostos, credenciamento em órgãos de fomento, etc.
Isso mesmo!. No Brasil, a principal parcela dos incentivos para as engenharias e áreas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) vem justamente da redução proporcional dos impostos a pagar, de bolsas a pesquisadores e de linhas subsidiadas, reembolsáveis ou não. A lógica escolhida aqui na terra brasilis foi: se você inova, está promovendo a competitividade e o desenvolvimento econômico do país. Por conseguinte, merece pagar menos impostos. Daí é que se tornaram tão desejados os engenheiros tributaristas ou, como dizem por aí brincando, os engenheiros “impostores” – uma corruptela para dizer que sabem lidar com impostos. Engenheiro tributarista: onde vive? do que se alimenta? A primeira vez que eu disse isso foi há cerca de dez anos em uma palestra na SAE Brasil. Os olhares de desconfiança e as reações à época me fizeram lembrar de Luciano Pavarotti. Quando eu morava na Itália na década de 1980, não se falava em outra coisa senão nas duras críticas que o gênio da ópera vinha recebendo. Pavarotti foi condenado por alguns grupos de puristas e amantes da música clássica quando começou a cantar músicas populares. Naquela estranha palestra, eu vivia uma situação parecida falando de impostos. Como um engenheiro de P&D, como eu, poderia ter desertado e estaria apresentando slides sobre cálculos de impostos a pagar, com e sem inovação, para colegas? Pois o passar do tempo e a complexidade de se fazer uso seguro e otimizado dos incentivos à inovação encarregaram-se de transformar aquela profecia em realidade. Setor automotivo em busca da inovação Hoje as engenharias das montadoras e sistemistas no Brasil disputam acirradamente projetos e recursos com outros centros de engenharia pelo mundo. Dessa disputa saem as áreas de inovação vencedoras e as “mortas”; obviamente, uma área sem projetos perde a razão de existir. Na comparação com centros de inovação rivais da Ásia, Europa e dos Estados Unidos avaliam-se os diferentes retornos (ROI) para os projetos, aplicando-se as condições de contorno de cada país. Uma vez que a qualidade e a velocidade das engenharias se equiparam, o desempate é no campo financeiro. É justo aí que minha velha profecia vira realidade. Incentivos fiscais, subsídios e tudo o que disser respeito ao financiamento e ao fomento deve ser usado para mostrar as condições competitivas do Brasil. Mas não espere que as áreas fiscais e financeira se empenhem em estar na vanguarda desse tipo de conhecimento. Não é daí que virão os bônus de seus dirigentes. Pelo contrário: muitas vezes, avaliar incentivos e afins é visto pelos profissionais dessas áreas como um trabalho e um risco a mais que eles não têm estímulo nenhum para enfrentar. Cabe, então, aos engenheiros e pesquisadores no Brasil o heterodoxo papel de atingir eficiência financeira e efetividade de capital máximas. Isso só se obtém se forem exploradas a fundo as duas principais dimensões que compõem esses ganhos. Incentivos para inovar com custo 72% menor A primeira consiste em acompanhar e utilizar de modo otimizado todas as múltiplas diferentes linhas de fomento à engenharia e inovação que existem. O detalhe é que no Brasil elas mudam a todo o tempo. É praticamente impossível para os executivos o trabalho adicional de acompanhar o lançamento dos editais de chamada de projetos (que normalmente recebem recursos não reembolsáveis). E não basta acompanhar: há que se montar, escrever e apresentar projetos alinhados a cada chamada para conseguir os recursos, quase sempre sob a pressão de prazos exíguos. A segunda é redesenhar a arquitetura das diferentes pessoas jurídicas que formam o grupo empresarial para alcançar máxima captação. Essa função nova e estratégica recai sobre nós, engenheiros. Explico: as áreas de engenharia e inovação terão que se tornar redes articuladas que envolvem os CNPJ originais, novos CNPJ abertos especialmente para projetos, laboratórios neutros, áreas de estudos avançados, start-ups derivadas da estrutura original e, na maioria das vezes, um ou mais institutos privados criados pela própria organização, as famosas ICT privadas. Só assim torna-se possível captar recursos destinados separadamente a cada uma dessas diferentes configurações jurídicas. O governo, em determinados momentos, concede recursos a startups, em outros a ICTs (Institutos de Ciência e Tecnologia), e, em outros, a empresas. Só quem está estruturado para receber incentivos em todas essas diferentes condições é que consegue captar o máximo. Muitas organizações inovadoras há anos compreenderam esses mecanismos e atualmente obtêm fantásticas marcas, de até 72% dos recursos para inovação, derivados da combinação de diferentes linhas de fomento. Se você, engenheiro, não fez nada disso ainda e continua achando que não é nosso papel tratar de impostos, então corra e mude. Ou assista a sua área de inovação derreter. Valter Pieracciani é sócio-fundador da Pieracciani Consultoria. Empresário, pesquisador, consultor, e escritor, é especialista em modelos inovadores de gestão. Dirigiu mais de 800 projetos em companhias-líderes como Nestlé, Ambev, Tetrapak, Pirelli e Avon, dentre outras. Atua como gestor de startup e de recuperação de empresas. *Este texto traz a opinião do autor e não reflete, necessariamente, o posicionamento editorial de Automotive Business
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